terça-feira, 30 de agosto de 2011

DESCONTROLADO



Eu ando por aí
Meio descontrolado
De olho revirado
Parecendo um zumbi

E você que me olha assim
Achando graça
da desgraça
Rindo de mim

Descontrolado
Pirado, qual é?
Sou louco sim
Mas quem não é?

Atrás de um volante
Na frente da TV
Com uma guitarra na mão
Ou pensando em você

Com a cabeça girando
Girando, sem parar
Berrando num microfone
Eu não vou aguentar

Tanto imposto
Tanta confusão
Tanto desgosto
To na contra-mão


Descontrolado
Pirado, qual é?
Sou louco sim
Mas quem não é?

sábado, 13 de agosto de 2011

É UM PERIGO ENCONTRAR VELHOS AMIGOS!


Outro dia estava no mercado quando vi no final do corredor um amigo da época da escola, que não encontrava há séculos. Feliz com o reencontro me aproximei já falando alto:
 - Oswaldo, sua bichona! Quanto tempo!!!!

E fui com a mão estendida para cumprimentá-lo. Percebi que o Oswaldo me reconheceu, mas antes mesmo que pudesse chegar perto dele só vi o meu braço sendo algemado.

 - Você vai pra delegacia! ? Disse o policial que costuma frequentar o mercado.

Eu sem entender nada perguntei:

- Mas o que que eu fiz?
- HOMOFOBIA! Bichona é pejorativo, o correto seria chamá-lo de grande homossexual.

Nessa hora antes mesmo de eu me defender o Oswaldo interferiu tentando argumentar:

- Que isso doutor, o quatro-olhos aí é meu amigo antigo de escola, a gente se chama assim na camaradagem mesmo!!

- Ah, então você estudou vários anos com ele e sempre se trataram assim?


- Isso doutor, é coisa de criança!


E nessa hora o policial já emendou a outra ponta da algema no Oswaldo:


- Então você tá detido também.


Aí foi minha vez de intervir:


- Mas meu Deus, o que foi que ele fez?

- BULLYING! Te chamando de quatro-olhos por vários anos durante a escola.

Oswaldo então se desesperou:


- Que isso seu policial! A gente é amigo de infância! Tem amigo que eu não perdi o contato até hoje. Vim aqui comprar umas carnes prum churrasco com outro camarada que pode confirmar tudo!


E nessa hora eu vi o Jairzinho Pé-de-pato chegando perto da gente com 2 quilos de alcatra na mão. Eu já vendo o circo armado nem mencionei o Pé-de-pato pra não piorar as coisas, mas ele sem entender nada ao ver o Oswaldo algemado já chegou falando:

- Que porra é essa negão, que que tu aprontou aí?

E aí não teve jeito, foram os três parar na delegacia e hoje estamos respondendo processo por _HOMOFOBIA_, _BULLYING_ e _RACISMO_.


*Moral da história: Nos dias de hoje é um perigo encontrar velhos amigos!*
(Autor desconhecido)

Nerdanderthal

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Contraste de vida


Este caso é verídico (ou quase), podem crer.
Aconteceu com uma figura folclórica, conhecida por "Joana D' Arc", nos idos de 1972.

Adquiriu esta alcunha, não por atos heróicos ou algo parecido; e sim por se chamar João, ser gay e morar sob os arcos da Lapa.



"Joana D'Arc" era famoso na área pelos seus trabalhos manuais. Ambas as mãos eram notavelmente hábeis; durante o dia pedia esmolas com a esquerda e à noite batia carteiras com a direita (esta última, de vez em quando, necessitava da colaboração, também, das duas pernas!!!)



Mas foi num ensolarado domingo de maio que nosso querido João virou manchete.

Acordou, como de costume às 7:15 horas, ao som de seu despertador elétrico - o pontual bondinho de Santa Tereza, que trepidava sobre sua cabeça, infalivelmente, a esta hora.



D'Arc levantou-se, desentortou-se (não é mole passar a noite dormindo  numa cama improvisada por duas caixas de maçãs e coberto por folhas de jornal), depois lavou o rosto e escovou os dentes (eram dois) no laguinho da praça. Tomou seu "café" bem quente - 96º GL - dividiu algumas migalhas de pão com os pombos da Cinelândia e foi para o seu passeio dominical.



Andava pelo Aterro aterrorizando as crianças (desculpe o trocadilho ocasional) , roubava brinquedos e depois fazia seu cooper, sempre acompanhado, à distância, por algum pai enraivecido.

Tudo muito saudável!

Se alegria de pobre dura pouco, imagine alegria de mendigo.

"Joana D' Arc" atravessou a pista e foi atravessado por um carrão esporte último tipo. Com algumas escoriações generalizadas, o carrão prosseguiu seu caminho, impunemente. João, com sua lataria amassada, cano-de-descarga  arranhado, saiu com um grande vazamento de sangue no nariz.

Andou alguns metros trôpego e foi cair junto às botinas de um PM.

O guarda abaixou-se e levantou-o pelos braços. João sorriu amarelo e bafejou:

- Oi! Seu guarda! .

O PM quase desmaiou com o cheiro de cana exalado pelo nosso "herói".

- Você está bêbado. Vai em cana!!
- Cana?? É da boa?? - perguntou D'Arc

- O que significa esse velocípede em suas mãos?

- Ué? Pobre não pode ter veículo?

Estou na campanha da poupança de combustivi.


 "Joana D'Arc" passou dois dias no xadrez, mas acabou sendo solto quando chegou aos ouvidos do delegado que aquele homem era o famoso líder do SMBPL - Sindicato dos Mendigos, Bêbados e Prostitutas da Lapa.



- Não quero saber de problemas com líderes sindicais. Isso é com a polícia federal - disse o delegado com voz de Pôncio Pilatos. 
Esta frase ecoou pelos corredores da delegacia e logo surgiu um pelotão de repórteres sufocando o João.



Fotos, perguntas discretas: "Foi você que jogou as bombas?"
Perguntas indiscretas: "Está vinculado a algum partido?"



Primeira página dos maiores jornais do País, lá estava "Joana D'Arc" em todos os ângulos.



Transbordando vaidade, Joana pediu um exemplar (gratuito, é claro) de cada jornal, e lá se foi nosso amigo, com uma pilha de aproximadamente vinte matutinos, de volta à Lapa.



Parou na porta do passeio público, chamou bastante a atenção. Seus amigos o rodeavam. João espalhou os jornais pelo chão cheio de orgulho. Nesse instante "Zé Tatuzinho", o especialista em batidas da mendigada, gritou bem alto:



- Oba! O Joana está distribuindo “lençol” pr'a todo mundo! Vamos lá moçada!!

O avanço foi geral e irrestrito. Não sobrou nem classificados de recordação.



Joana estava desolado, cabisbundo, moribaixo. 
Seu dia de glória acabara ali, em alguns segundos.



Hoje, quem passa sob os arcos da Lapa, pode ver, todas as noites, o corpo magro e imundo do nosso ex-herói adormecido, coberto pelo mesmo velho jornal amassado, em cuja folha ainda se pode ler a manchete daquele dia:

"BRASIL NA ERA NUCLEAR!!! INICIADAS AS OBRAS PARA CONSTRUÇÃO DE UMA USINA EM ANGRA DOS REIS" .